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Simone e Simaria dão o troco e fazem letras contra o machismo que domina músicas atuais

quinta-feira, 2 de abril de 2015

                 Os fãs da música sertaneja feita atualmente estão acostumados a escutar letras que falam de balada, em que os homens bebem mesmo, beijam mesmo, pegam mesmo e, no dia seguinte, nem se lembram de nada, como canta a dupla Fernando & Sorocaba na música "É Tenso". Ou então as que defendem que, para conquistar garotas, basta ter um carrão, como em "Camaro Amarelo", de Munhoz & Mariano. Dentro do gênero, porém, já há mulheres que fazem sucesso com canções diferentes, cheias de atitude feminista.




 
                    As irmãs Simone & Simaria, de Fortaleza (CE), são um exemplo disso. Ex-backing vocals de Frank Aguiar e desde 2012 se apresentando como dupla de forró-sertanejo, elas decidiram tocar na ferida da violência doméstica e cantam "Ele Bate Nela", composta por Simaria. Como uma balada romântica, a música vai revelando a história de uma mulher que acreditava ter conhecido um cara especial, até que um dia, ele começa a bater nela.

                 "É claro que a gente canta músicas de festa, de bebida e pegação, mas queremos que os homens abram os olhos porque o mundo é machista. Se você só ouve música sobre bebida e raparigada, só vai querer saber disso mesmo", afirmou Simaria.

                 "Quando componho, penso no que as pessoas passam. E a verdade é que isso [violência doméstica] é bastante comum ainda. Eu queria falar disso, mas de um jeito que não fosse muito pesado. Então compus essa história com amor", disse Simaria.

                   Lançado em maio de 2014, o clipe da música (assista aqui) tem mais de 2 milhões de visualizações. O vídeo mostra Simone cantando grávida, além de uma dramatização da letra da música, em que uma atriz vive uma mulher que é espancada pelo marido.

              Simaria diz ter se surpreendido com a quantidade de acessos do clipe, o que, segundo ela, não é comum para artistas do Nordeste. "Em São Paulo tem mais gente, mais visibilidade. Aqui [Ceará] é mais difícil, então a gente fica muito feliz com esse trabalho", disse ela.

               Ao final do clipe, surge a mensagem "Não se cale. Denuncie. 180", com o telefone da Central de Atendimento à Mulher. A repercussão da música, segundo a dupla, é sentida principalmente ao final dos shows, quando as fãs as abordam e agradecem. "Algumas dizem que se libertaram", afirma Simone.

               As irmãs dizem que o alcance não fica restrito às mulheres. Em fevereiro, elas lançaram o DVD "Bar das Coleguinhas", carregado de sofrência, o que atraiu muitos fãs homens. "É claro que a gente canta músicas de festa, de bebida e pegação, mas queremos que os homens abram os olhos, porque o mundo é machista. Se você só ouve música sobre bebida e raparigada, só vai querer saber disso mesmo", diz Simaria.

Veja abaixo a letra de "Ele Bate Nela":

"Era uma moça
Uma moça muito especial
Que namorava um cara
Que também parecia ser especial
Ele demonstrava
Ser um homem diferente
Mesmo com sua gentileza
Não conquistou a família da gente

E ele demonstrava amor
E jurava que nunca te enganou
Que seria sempre um anjo na vida dela
Que nunca maltrataria ela
E ela confiou
E entregou todo o seu amor
E esse cara com um tempo
A sua mascara quebrou

E agora ele bate, bate nela
E ela chora
Querendo voltar pros braços de sua mãe
E agora
Eu tô sem saída
E se eu for embora
Ele vai acabar com a minha vida

Aaaaai, aaaaai
Quanta dor eu sinto no meu peito
Devia ter feito as coisas direito

Aaaaai, aaaaai
Oh Deus me tire desse sofrimento
Porque viver assim eu não aguento
Só quero ser feliz"


Resposta à altura

               Quando escutou a versão gravada por Munhoz & Mariano da música "Sou Foda", do grupo de funk "Os Avassaladores", a paranaense Naiara Azevedo ficou irritada. Mas, graças a isso, conseguiu destaque no mercado sertanejo. Em 2011, ela lançou "Coitado", uma paródia da música . Enquanto eles cantam "Sou foda, na cama te esculacho/ Na sala ou no quarto/ No beco ou no carro", Naiara responde: "Coitado! /Se acha muito macho/ Sou eu que te esculacho/ Te faço de capacho" (assista ao clipe aqui).

                 "Entendo que sejam músicas divertidas para uma festa, mas, se você para um pouco para pensar, fica mal de perceber que é assim que os homens veem as mulheres. As mulheres nas letras são objetos descartáveis, quando, na verdade, somos sensíveis e não enxergamos dessa forma". Depois do sucesso de "Coitado", que rendeu participações em alguns programas de TV, Naiara é constantemente solicitada para responder várias músicas, como "Lepo, Lepo", do Psirico, e "Não Tô Valendo Nada", de Henrique & Juliano.

A favor das mulheres e não contra elas

                 Naiara diz que adora funk e até canta "Bota a Cara no Sol", música de Wallace Vianna e André Vieira, os mesmos compositores de "Beijinho no Ombro". Mas ela deixa claro que não gosta dessa história de uma mulher contra a outra, as "inimigas" mencionadas no hit de Valesca Popozuda. "Eles [os compositores] já haviam me oferecido outras músicas, mas não curto essa coisa de uma mulher contra a outra. Falo a favor delas e acho que é por isso que as pessoas gostam do meu trabalho."

                 Outra sertaneja que se considera feminista, Monica Guedes canta "Se te deixo dominar, é meu jeito de gostar", na música "Doce Pimenta", de sua autoria (assista ao clipe aqui). Para ela, a união das mulheres é essencial para que elas se consolidem no mercado. "A entrada da mulher no mercado já é complicada. Não acho que uma mulher não goste de ver outra sobre o palco. A Paula Fernandes está aí para provar que é possível fazer muito sucesso. Precisamos nos juntar e mudar essa história."



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